Era uma vez....
Todas as histórias começam assim não é? Pelo menos aquelas histórias intemporais que todos guardamos na memória (cada qual com a sua interpretação pessoal!!)
Pois eu não sabendo como começar, também me aproveito do "era uma vez", não merecendo com isto comparar a minha reflexão a tão grandes escritos!
Era uma vez uma enfermeira que chega a casa depois de mais um turno de domingo (este de Ramos), encontra a casa vazia, pois cada um foi à sua vida, arejar e distrair, não fora tarde solarenga!!
- E agora o que vou fazer? (penso... sabendo qual a resposta que quero ouvir!!)
- Vou escrever aquele texto que ficou por escrever depois da reflexão quaresmal, que tão bem foi guiada pelo nosso amigo Frei Vasco!
Então começo…
Estamos hoje a iniciar a recta final da nossa quaresma de 2010! Temos apenas mais uma semana para "limpar a casa"! Ora pois, não é na altura da Páscoa que as nossas mães nos ensinaram a fazer as grandes limpezas? Então resta-nos uma semana para nos limparmos. Sim, porque para que serve uma casa limpa se os habitantes não tomarem banho?
Limparmo-nos de quê?
De tantas coisas sujas que trazemos cá dentro (eu pelo menos trago, não sei se pensais o mesmo!)
Segundo as palavras do Frei Vasco, poderemos andar doentes! Doentes da alma e não sabemos! Pois as doenças do corpo são mais visíveis e valorizadas (não sendo, por vezes, as que mais fazem sofrer!)
Lendo o texto de Marcos 1, 29-31, poderemos questionar que tipo de febre teria a senhora que tão depressa lhe passou sem tomar qualquer Ben-U-Ron.... que origem, que vírus a teria acometido?... Sabemos apenas que após o perdão de Jesus ela ficou bem e nem foi preciso termómetro!!
Pois bem, o nosso amigo Vasco também acha que andam por aí algumas "febres" esquisitas que não cedem aos comprimidos da farmácia!
Senão vejamos:
- quantos de nós nos deixamos dormir no conforto das nossas casas ou dos nossos projectos e não fazemos mais nada pela nossa terra, pela nossa comunidade, pelos outros que nos rodeiam? Já temos demasiado que fazer... só o existir nos cansa! Não vamos à missa porque o Domingo é para descansar, não participamos em actividades durante a semana porque temos que trabalhar/estudar, não podemos colaborar com a associação por que isso é só para quem tem tempo (não é para nós, os ocupados), não... porque....não porque... Pois a essa doença, o Frei Vasco chamou-lhe KOALITE (de Koala, aquele bichinho fofinho que só quer é mesmo dormir). Sim, isso é sinónimo de preguiça! Ora, será que não a terei que vassourar de mim, para viver uma Páscoa mais verdadeira?
- uma outra maleita que se identificou foi a PAVONITE (de Pavão, aquela ave linda que pavoneia a cauda para impressionar a fêmea). Esta é tentadora... é a doença de quem se mete bem à vista e quer ser agradável a todos! De quem se acha cheio de qualidades e quer mostrar-se a toda a gente!! Pois o problema, já diz o ditado, "não se pode agradar a gregos e a troianos!", não se pode dizer sim e dizer não! Por vezes, ao tomarmos posição, perdemos supostas vantagens, presumíveis amigos… mas não os perdemos, porque afinal nunca os tivemos! Mas será que também nós não trabalharemos demais para um pretenso protagonismo? Será que o que fazemos é sentido e verdadeiro ou terá um outro objectivo escondido? Na Páscoa abrem-se as portas, não poderá esconder-se nada!
- a COELHITE (de coelho) também abunda, também faz sofrer, também “suja” a nossa alma. É a doença dos que têm sempre medo, que fogem sempre, que não querem tomar decisões importantes, não assumem responsabilidades… É bem mais fácil que outros vão à frente, é mais confortável andar por arrasto… Mas isso far-nos-á felizes? Dar-nos-á segurança, auto-estima? Jesus quer entrar na nossa casa na próxima Páscoa, não se sentirá bem numa casa “apertadinha” com medo!!
- mas também existe um vírus de superficialidade, distracção, de múltiplos projectos começados nunca acabados, de quem anda de cabeça no ar – a BORBOLETITE (de borboleta)! Quantos de nós somos borboletas que estamos em todo o lado e não estamos em lado nenhum? Que provamos todas as flores, mas que não conhecemos nenhuma verdadeiramente? Que encetamos projectos, iniciativas, mas nunca nos envolvemos a sério? Se Jesus tivesse andado distraído talvez se tivesse esquecido de morrer, não acham? (Às vezes dá jeito estarmos distraídos!)
- segue-se a COBRITE, a doença daqueles que estão sempre a meter veneno (nas críticas, nos insultos)… Quanto a esta não vale a pena mais palavras… Quantas vezes somos verdadeiras serpentes para quem vive, trabalha, convive, se esforça ao nosso lado? Temos uma semana ainda para pensar antes de abrir a boca!
- a BISONTITE (de Bisonte), a doença dos que levam tudo e todos à frente para atingir os seus objectivos! Será que não temos em nós um pouco do temperamento deste mamífero? É altura de levarmos à frente só a sujidade que se tem alojado em nós!
- e quantas vezes só vemos as aparências, trocamos o bem pelo mal, seleccionamos o que nos é agradável aos olhos e não a verdade? Essa chama-se TOUPEIRICE, de toupeira, aquele animal que anda debaixo da terra, vê mal, tem uma visão distorcida!! Lavemos os olhos, olhemos com atenção! Há coisas que temos tentado não ver!
- quem de nós já não se sentiu um camaleão, ou teve vontade de o fazer? De mudar de cor, de virar a casaca, de mudar de opinião consoante as circunstâncias para um melhor proveito? Sofremos, então, de CAMALEONITE, somos falsos, mentirosos… Como poderei viver a ressurreição de quem me conhece tão bem, sabendo que minto? A Ele nada posso esconder!
(Ainda faltam quatro, isto parece um compêndio de medicina!)
- quantos de nós nos custa dialogar, escutar a diferença, aceitar a mudança? Quantos nos recusamos a abrir à opinião do outro, a ouvi-la, respeita-la, reflecti-la, “cozinha-la com a nossa”? Somos teimosos, seguimos sozinhos, de olhos vendados, com vendas laterais como um dos animais que tão bem conhecemos – é a BURRITE!! Sejamos razoáveis, a inteligência não ficou a morar só na nossa cabeça!! Aprendamos com os outros!
- a ELEFANTITE (de elefante), a doença de quem é duro de ouvido! (Não fisicamente!) Os que não ouvem, nem aos outros, nem a Deus!! É o seguimento da burrite… Somos seres em relação, não existimos senão na relação com o outro. Como queremos viver essa relação? De ouvidos cheios de cera?
- quantas vezes assistimos a situações, conhecemos pessoas que de tudo tiram vantagem, até da desgraça alheia? E nós? Seremos como hienas que devoram os restos dos outros? Quantas vezes teremos caído nessa tentação? Limpemos os restos dos nossos erros para fora do nosso coração, respeitemos o sofrimento, ajudemos na amargura ou seremos infectados por HIENITE!
- a DONITE (de doninha), a doença de quem já está cheio de compromissos, de quem para seu bem-estar físico, psíquico e espiritual não pode assumir mais nada, mas mesmo assim não é capaz de dizer não!! Quantas vezes seria melhor para todos que o dissesse! Temos mais esta semana para aceitar as nossas limitações, para aceitarmos que todo poderoso só há um! Protejamo-nos para podermos proteger quem está ao nosso lado!
Bom, estas foram as doenças identificadas pelo Frei Vasco na sua sugestão de exame de consciência!
Hoje, Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, aproveitemos para parar, pensar, colocar uma cruz na nossa debilidade!! Façamos desta semana a Maior… aquela em que arranjamos espaço em nós para que Jesus possa depositar um pouco da grandiosidade da sua RESSUREIÇÃO!!
Pensemos, se Jesus não ressuscitou é vã a nossa fé! O que andamos nós então a apregoar?
Vitória! Vitória! Acabou-se a história! É assim que acabam as histórias não é?
Começam a chegar a casa os “aproveitadores” do sol de domingo! É hora de terminar!
Um grande obrigado ao Frei Vasco da parte dos “Somos Um”, ficámos a dever-lhe mais esta!! Obrigado por pôr a pensar… por nos incomodar… por ser nosso amigo (podemos chamar-lhe assim não podemos?)
O tema do perdão fica para outra vez, foi tão apaixonante que ainda não amadureceu!
Célia Querido
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